
Se você perguntar a um fã de hóquei qual é a melhor pós-temporada entre todos os esportes, é quase certo que ouvirá: os playoffs da Stanley Cup. Mais dinâmico, rápido e intenso, o hóquei dos playoffs atinge um nível de competição muito acima da temporada regular — e é um espetáculo à parte para quem assiste. E se você sintonizar em um desses jogos, vai notar outro detalhe tradicional: jogadores exibindo com orgulho suas barbas nos mais variados estilos e tamanhos!
Não temos uma regra específica para o crescimento da barba em si, pois cada um dos jogadores irá manter a sua de acordo com sua preferência. Temos jogadores que nunca abrem mão das suas belíssimas barbas, mas também há aqueles que costumam deixar seus rostos lisos até o último jogo da temporada regular, deixando a barba crescer apenas ao garantir a classificação para os playoffs. Alguns deles fazem retoques durante a pós-temporada, aparando alguns dos pelos rebeldes; já outros, deixam suas barbas crescerem livremente.
Se você acha que Victor Hedman, Drew Doughty ou até mesmo Brent Burns – que já fez uma ponta na série Vikings por causa de sua aparência! – foram precursores do movimento, você se engana. Então, vamos descobrir um pouco da superstição por detrás desta história.
Início da superstição
Nomes importantes dentro do esporte chegaram a conclusão de que a tradição começou no início da década de 80, com o New York Islanders. Bob Nystrom, ex-jogador do time e peça fundamental para a vitória no overtime no jogo 6 contra o Philadelphia Flyers em 1980, contou numa entrevista para a ESPN que as barbas começaram a surgir de maneira orgânica e nada planejada, e que a razão para permanecer foi de que quando alguma coisa está dando certo, você não quer fazer mudanças. E como eles estavam numa crescente sequência de vitórias, essa premissa foi adotada e as barbas permaneceram intactas.

Bob Nystrom atuando pelo New York Islanders. Reprodução/B Bennett via Getty
E como as coisas estavam dando muito certo – afinal eles conquistaram a Stanley Cup quatro vezes consecutivas! -, alguns outros times começaram a adotar a prática e logo começaram a aparecer mais rostos barbados ao redor da liga. Os primeiros times a adotarem a moda foram New Jersey Devils e Minnesota North Stars, este último que mesmo reproduzindo a ideia do Islanders, foi eliminado em cinco jogos nos playoffs pelo time de Nova York posteriormente, mas depois foi se popularizando entre outras equipes.
No ano seguinte, os Islanders foram derrotados pelo Edmonton Oilers – que ganhou cinco vezes a Stanley Cup! – que não seguiram a tradição. Wayne Gretzky tinha 23 anos e seus companheiros eram igualmente jovens, então não se pode cravar que eles não adotaram as barbas porque não quiseram ou porque elas não eram “boas” o bastante. Mas a tradição não morreria, pois outro time decidiu continuar.
Ken Daneyko, ex-jogador do New Jersey Devils e analista da NHL Network contou que o motivo de começarem a não raspar as barbas em playoffs foi justamente para elogiar os jogadores do Islanders que conseguiram tal feito, e que assim podiam se sentir exatamente como eles haviam se sentido na época.
“Éramos grandes, fortes e talentosos, podíamos jogar como você quiser. Até hoje, tenho muito respeito por essas equipes,” declarou Daneyko para a ESPN.

Ken Daneyko erguendo a Stanley Cup. Reprodução/Brian Bahr via Getty
Em 1994, os Devils foram derrotados pelo New York Rangers que não era um time barbado. Lendas afirmam que eles não queriam ser relacionados com os Islanders devido à rivalidade, mas John Rosasco, vice-presidente de relações públicas e recrutamento de jogadores dos Rangers, conversou com membros da equipe e declarou que não há confirmação disso, dizendo que pode apenas ser uma invenção.
Mas para como tudo na vida tem exceções, alguns jogadores não seguiram e ainda não seguem a tradição. Chris Chelios declarou que quando chegou para jogar em Montréal, a tradição não era conhecida. Além do mais, o defensor afirma nunca ter sido um grande entusiasta de barbas e bigodes, e que Guy Lafleur (ex-jogador do Canadiens) sempre se barbeava antes dos jogos, então ele o copiava, pois isso ajuda os jogadores a saírem primeiro do banho depois do jogo.
Também existe um fato curioso: se a equipe estiver perdendo, os jogadores têm permissão de aparar a barba na tentativa de endireitar as coisas, contudo isso não acontece com frequência.
Em 2010, o Vancouver Canucks enfrentou o Chicago Blackhawks no segundo round dos playoffs da Stanley Cup. Os Blackhawks lideravam a série por 3-1 e o goleiro do Canucks, Roberto Luongo decidiu raspar sua barba para tentar converter a situação. No jogo posterior, os Canucks conseguiram vencer o jogo, então a tradição de deixar a barba foi retomada. No fim, não adiantou de nada, pois além dos Canucks serem eliminados, os Blackhawks foram campeões da Stanley Cup. A brincadeira que rolou na época foi que Luongo trouxe má sorte ao time ao raspar a barba.
As barbas atuais
Se pararmos para pensar, podemos elencar algumas boas barbas pela liga. Nitidamente o número de jogadores com barbas grandes cresce durante os playoffs, mas assim como no início da tradição, muitos jogadores não são adeptos. Alguns porque não conseguem mais do que alguns poucos pelos perdidos de maneira dispersa pelo rosto em razão da idade, outros porque não são fãs e outros que gostam de esbanjar nada mais do que um belíssimo bigode. Sabemos que alguns jogadores ao redor da liga já transformaram a barba em um traço pessoal tão marcante que é impossível pensar neles sem suas barbas espessas, longas e cheias.

Brent Burns atuando pelo Carolina Hurricanes. Reprodução/Aaron Doster-Imagn Images
Segundo Butch Goring, ex-jogador do Islanders, a barba continua sendo um símbolo de persistência e dedicação. “É um lembrete de que é uma época diferente do ano, onde você tem um foco diferente, um compromisso diferente”, e nisso podemos concordar.
Thornton começou a deixar a barba crescer em 2015-2016. Isso demonstra como para alguns jogadores, as barbas são além de superstição: elas são a marca registrada e sem elas, os jogadores quase que tornam-se outras pessoas totalmente diferentes. Normalmente, quando jogadores que já possuem barbas como característica própria e se desfazem delas, o mundo do hóquei entra em comoção. Foi assim quando Joe Thornton se desfez de sua longa barba durante a pandemia da COVID-19, causando um choque enorme nos fãs.
*poof* pic.twitter.com/kQVdFwjnI2
— San Jose Sharks (@SanJoseSharks) May 2, 2020
Contudo, algumas regras curiosas existiam. Apesar da tradição da barba ter começado com o New York Islanders, o time tinha algumas políticas em vigor. Ao assinar com o time de Long Island, os jogadores precisavam ter em mente que Lou Lamoriello, ex-GM e presidente de operações da franquia, impunha algumas normas: os jogadores — a menos que fossem veteranos ou jovens jogadores chegando para alguns jogos — não tinham permissão para usar números altos (a ideia era que os números nas costas das camisetas precisavam estar próximos para haver unidade), e também eram obrigados a manter o rosto liso durante a temporada regular, assim como o cabelo, que deveria ser curto. Por isso alguns jogadores precisavam raspar sua barba antes de entrar no gelo após serem trocados.
Fresh Team = Fresh Shave @kylepalmieri | @NYIslanders pic.twitter.com/9XklpnOI18
— NHL (@NHL) April 8, 2021
Superstições e normas à parte, não há como negar que poucas coisas são mais icônicas no hóquei do que os dentes faltando e uma barba cheia, além, claro, das habilidades excepcionais no gelo. Embora algumas barbas já apareçam na temporada regular, é durante os playoffs que elas realmente ganham destaque. Acompanhando o crescimento das barbas conforme o time avança de rodada, é possível sentir a intensidade e a paixão que acompanham cada vitória. E nada mais emblemático do que ver esses rostos com suas barbas imponentes eternizados em fotos comemorativas, especialmente quando os jogadores erguem a Stanley Cup.
Palestina-brasileira. Professora, torcedora do St. Louis Blues e fã de tênis, café, true crime e dos meus seis pets. Artista e nadadora por hobby.
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