Torcida do Cardiff Devils foto por Cardiff Devils

Do Velho Mundo 2024-25 #2 – Festa em Cardiff e muito mais

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Voltamos para mais uma edição de “Do Velho Mundo”. Hoje, vamos falar um pouco das competições de hóquei no gelo do continente europeu. Nesse tempo entre a edição número um e essa, tivemos muito acontecendo. Vamos trazer um pouco de outras ligas, mais sobre a CHL, e até mesmo a história do primeiro time a levantar uma taça no hóquei europeu em 2024-25 fazendo festa em Cardiff.

Escolha a bebida que você preferir, talvez um lanche para acompanhar, recomendo também uma música agradável. Vamos começar essa edição pela principal liga da Suécia:

SHL – Brynäs e Färjestad dominam a liga

A SHL, Svenska Hockeyligan, é o topo da pirâmide do hóquei no gelo masculino na Suécia. Ela é considerada a terceira liga mais forte da categoria no mundo, atrás da NHL e KHL. A proficiência dos jogadores suecos também atrai jogadores de outros lugares do mundo, especialmente com as sanções que a Rússia tem sofrido. É uma liga com nível muito forte.

Nessa temporada, vemos uma disputa entre Brynäs IF e Färjestad BK para fazer a melhor campanha da temporada regular. O Brynäs tem a melhor campanha da liga, com 70 pontos em 35 jogos. O time tem um bom ataque que marcou 123 gols e é liderado por Jakob Silvferberg, uma figura bastante conhecida, com 33 pontos. A defesa do time sofreu 80 gols e conta com as proezas de Erik Källgren, que tem média de 2,35 gols sofridos por jogo e dois shutouts na temporada até agora.

Jogadores do Brynäs em fila

O time do Brynäs tem a melhor campanha da SHL (Foto: Mats Åstrand/TT)

O segundo lugar da SHL é o Färjestad, um time que está fazendo boa campanha em CERTOS CAMPEONATOS™ também. Na liga nacional, o time somou 68 pontos em 35 jogos disputados. O ponto forte do Färjestad é a força ofensiva que já marcou 134 gols. O poder de fogo do Färjestad é liderado por David Tomášek com 44 pontos, 20 gols e 24 assistências, e o artilheiro da SHL, Oskar Steen, que marcou 23 gols. A força ofensiva do Färjestad tem carregado o time na temporada, vamos falar mais sobre isso daqui a pouco.

 

Essa é apenas uma das disputas nessa liga tão concorrida. Tem, por exemplo, uma disputa entre o terceiro, quarto e quinto. Também, uma do sexto ao nono lugar, que no final acaba sendo também uma disputa por uma vaga direta nas quartas de final após a temporada regular. E, é claro, tem uma disputa para fugir do rebaixamento entre os três times. Tem o MoDo Hockey, que virou o saco de pancadas, mas esse pode ser assunto para depois.

IceHL – A liga dos nomes complicados

A liga conhecida como NOME DO PATROCINADOR + ICE Hockey League, ou simplesmente IceHL, é a grande liga de hóquei no gelo da Europa central. A IceHL nasceu da antiga liga de hóquei da Áustria. Em 2006, a liga se reformulou, abriu as portas para times de outros países e, hoje é vista como uma liga internacional. A temporada atual da IchL contém 13 times, sendo oito austríacos, três italianos, um esloveno e um húngaro.

Atualmente, a IceHL tem uma fórmula de disputa muito simples, felizmente, porque não costumava ser assim. Eu precisaria de um texto gigantesco só para explicar como o campeonato era disputado anteriormente com temporada regular, segunda fase, fase de classificação, repescagem… Hoje, são 48 rodadas na temporada regular. Os seis melhores se classificam para as quartas de final automaticamente e os times de sétimo a décimo lugar disputam o pré-playoff, valendo as duas vagas restantes nas quartas. Pelo menos algo tinha que ser simples nessa liga… como vamos ver sobre os nomes de alguns times.

Temos, por exemplo, o Hydro Fehérvár AV 19 da cidade de Székesfehérvár, Hungria, que lidera a temporada regular com 81 pontos. O Hydro no nome do time é patrocínio e o Fehérvár é um entre vários times da IceHL que carregam nome de patrocinador no nome da equipe. Nessa categoria, existe também o famoso Red Bull Salzburg (quarto lugar com 74 pontos) que pode ser chamado nessa coluna de time austríaco do energético ou Bragantino de Salzburg. Mas, esse é um nome fácil assim como o Seinbach Black Wings Linz (69 pontos, 6º lugar). Existem times como o EC iDM Wärmepumpem VSV (65 pontos, sétima posição) e o italiano Migros Supermercati Asiago Hockey (12º lugar, 31 pontos), tendo nomes longos por conta do patrocínio. Tem o HC TIWAG Insbruck – Die Haie (30 pontos, 13º lugar), que consegue ter patrocinador e seu apelido na composição do nome completo do time.

Aliás, corriqueiramente vemos siglas nos nomes dos times, como por exemplo, o EC VSV de EC iDM Wärmepumpem. VSV significa Eishockey-Club Villacher Sportsverein, o que seria traduzindo literalmente Clube de Hóquei no Gelo Esporte Clube de Villach.

Jogador do HC Bolzano contra o Olimpija Ljubljana

De um lado temos HC Bolzano com muitos nomes, do outro Olimpija Ljubljana (Foto: Domen Jancic)

O mais famoso e que representa bem é o EC KAC. EC Klagenfurter Athletiksport Club seria o Clube Atlético de Desportos de Klagenfurt, traduzindo ao pé da letra. O EC antes da sigla KAC é só para designar que é o time de hóquei no gelo do clube. Mesmo que não tenha um significado real, o E de EC veio de Eishockey (hóquei no gelo em alemão). O EC KAC é o vice-líder da IceHL com 78 pontos e o maior campeão da história do hóquei austríaco com 32 títulos.

Mas nada, nada mesmo, supera o HC Bolzano (terceiro lugar com 76 pontos) e o motivo é curioso: em cada lugar ele tem um nome diferente. HC Bolzano é o nome italiano original do time, sendo HC a sigla para Hockey Club. Seria bom se fosse assim, tão simples e fácil, mas ele tem um nome comercial em italiano que é HCB Alto Adige Alperia e outro em alemão, HCB Süditirol Alperia, sendo que a sigla HCB é de Hockey Club Bozen-Bolzano. Quando disputa a CHL, usa o nome de HC Bolzano Foxes, seu nome oficial em inglês. Nessa coluna e em outros lugares que eu falar ou escrever, vou utilizar o nome HC Bolzano que é o mais simples de todos. Aliás, esse clube de tantos nomes é, até hoje, o único time não-austríaco a vencer a IceHL, conquistando a liga em 2014 e 2018.

Nem só de nomes difíceis vive a IceHL. Tem também o Olimpija Ljubljana (55 pontos, oitava posição), que apesar das diferenças para nós que falamos português tem um nome simples. O mesmo vale para outro time italiano, o HC Pustertal Wölfe (nona colocação com 51 pontos), e o Pioneers Voralberg (11º lugar, 41 pontos). São nomes tipo Cardiff Devils (esta não foi uma citação aleatória), simples e eficientes.

A IceHL é uma liga que gosta de complicações, com times que às vezes têm nomes muito extensos. Vamos simplificar ao máximo possível quando referirmos a esses times no futuro, pelo motivo de não somos obrigados. Mas, nem tudo é difícil nessa liga. Por exemplo, quem vence a final é campeão da IceHL, entretanto existe um segundo título que corre paralelamente dado ao campeão austríaco, ou seja, o melhor time austríaco no final da temporada. Para simplificar, se o campeão da IceHL não for austríaco, o campeão austríaco é o vice-campeão, a não ser que o vice também não seja austríaco, aí é o terceiro lugar, isso se esse terceiro também não for de outro país… CHEGA!

EIHL – Corrida pelo título

Bem-vindos a Elite Ice Hockey League (EIHL),  liga principal de hóquei da Grã-Bretanha. A liga possui times de Inglaterra, País de Gales, Escócia e Irlanda do Norte. A maior parte dos times está na Inglaterra, uma parcela significativa na Escócia, enquanto Gales e Irlanda do Norte têm um representante cada. Os representantes dos países com menos times têm feito bonito há anos.

A EIHL é uma liga levemente diferente de todas as demais ligas nacionais de hóquei no gelo. O primeiro motivo é por ter três campeonatos durante a temporada. A liga em si é disputada no sistema de pontos corridos, ou seja, o campeão da EIHL é o time com mais pontos ao final de 54 rodadas. Paralelamente, a liga corre a Copa da Liga, onde os times se dividem em grupos, disputando um jogo em casa e um na casa do adversário para cada oponente. Os melhores de cada grupo avançam para as semifinais e quem vence as semifinais joga a final. Além desses dois campeonatos, tem os Playoffs. Esse é disputado pelos oito melhores times da Liga ao final da temporada, naquele esquema muito tradicional do primeiro contra oitavo, segundo contra sétimo colocado, e assim sucessivamente.

Para fechar a introdução sobre a EIHL, vale destacar que a liga segue o sistema de pontuação da NHL e não da IIHF, como as demais ligas da Europa fazem. Então, para lembrar: vitória vale dois pontos, seja no tempo normal, prorrogação, ou shootout (o grande momento do hóquei no gelo). Derrota na prorrogação ou shootout vale um ponto para o time perdedor, a derrota no tempo normal de jogo vale zero (zéro, zero[do italiano], null, zero [do espanhol], nul, zero [do inglês]…) pontos.

Dito isso, vamos aos principais competidores na corrida pelo título. Como anteriormente explicitado, os times de Irlanda do Norte e País de Gales são os melhores da EIHL e disputam o título da liga ano após ano. Na temporada passada, o Sheffield Steelers até conseguiu levantar a taça, mas esse ano está em terceiro lugar, quatro pontos atrás na corrida para o segundo lugar. O segundo lugar é o Cardiff Devils, time da capital do País de Gales, com 44 pontos em 30 jogos, 21 vitórias, duas derrotas em prorrogação/shootout e sete derrotas no tempo normal. Curiosamente, nenhuma das vitórias dos Devils foi na prorrogação ou shootout, foram todas nos 60 minutos de jogo. Cardiff não tem o melhor dos ataques, mas tem a melhor defesa. Empatada com o líder da EIHL, com 71 gols sofridos, é um time que aposta mais na eficiência geral do que em focar mais em atacar ou defender. Ainda assim, os Devils têm o maior pontuador e artilheiro da EIHL na figura de Josh MacDonald, atacante canadense de 30 anos de idade com 21 gols, 18 assistências e 39 pontos no total.

Jogadores de Belfast Giants e Cardiff Devils disputando espaço no gelo

Giants e Devils lideram a corrida pelo título da EIHL (Foto: William Cherry/Press Eye)

Melhor que os Devils apenas o Belfast Giants e isso é por pouco. Os Giants têm 45 pontos, 21 vitórias (19 no tempo regulamentar e duas em shootout ou prorrogação), três derrotas em shootout/prorrogação e seis derrotas no tempo regulamentar. Belfast apresenta o segundo melhor ataque da EIHL com 112 gols e a melhor defesa como já mencionado antes. É um time que não tem um jogador de linha, se destacando muito claramente nos quesitos ofensivos, mas os goleiros estão muito bem. Jackson Whistle tem 92,58% de defesas, média de 2,04 gols sofridos por jogo e um shutout em 14 jogos que disputou. Tom McCollum está com 91,91% de defesas, uma média de 2,26 gols sofridos por jogo e dois shutouts em 17 partidas.

Desde a temporada 2016-17, Giants e Devils estão sempre na disputa pelo título, apenas na temporada passada nenhum dos dois venceu a liga. Eles ajudaram a fundar a EIHL em 2003, mas somente na década passada começaram a vencer títulos e derrubaram o domínio inglês na EIHL. Curiosamente, o hóquei no gelo tem mais popularidade e história na Inglaterra e Escócia. Na Irlanda do Norte, ele praticamente só chegou com a fundação do Belfast Giants em 2000. Entretanto, a tradição não vence títulos. Bons projetos de desenvolvimento e estabelecimento de times junto a um grande momento presente constroem os campeões. Nisso, tanto o Cardiff Devils quanto Belfast Giants têm feito primorosamente.

Champions Hockey League – Final definida

Na edição anterior de Do Velho Mundo

A Champions Hockey League começou, passou a primeira fase, eliminatórias e definiu as semifinais. De um lado da chave, Färjestad BK e Sparta Praha foram pareados para disputar uma vaga na final. Do outro, os suíços ZSC Lions e Genève-Servette HC se prepararam para um confronto caseiro rumo a final. Agora vamos ao que aconteceu nas semifinais…

Tudo começou num dia frio em Praga, onde o Sparta e Färjestad abriram as semifinais. Lembram-se de uns tópicos atrás quando foi mencionada a força ofensiva do Färjestad? Pois bem, o time sueco mostrou ao Sparta que disparar a gol é importante, mas qualidade é melhor que quantidade. Foram 54 tentativas de disparo a gol do time da casa contra 39 dos visitantes, o placar final foi de dois a seis em favor do Färjestad. O jogo da volta foi mais equilibrado, o Färjestad soube administrar a ótima vantagem e usar ao favor com bons contra-ataques precisos e vencer também o segundo jogo, dessa vez por quatro a dois. O placar somado foi de 10 a quatro para o Färjestad, o Sparta nessa semifinal parecia o exército espartano contra Tebas.

No confronto suíço, Genève-Servette e ZSC Lions abriram a série em Genebra, na casa do Genève-Servette. Assim como na outra semifinal, foi o visitante quem fez a festa. O ZSC Lions dominou completamente, vencendo na casa do ainda atual campeão da CHL por um a seis, levando ótima vantagem para casa. No jogo de Zurique, os times acabaram empatando em três a três Então, o ZSC Lions fez nove a quatro no placar agregado e garantiu sua vaga na final. Para o Genève-Servette o sonho do bicampeonato terminou melancolicamente.

O ZSC Lions continua sua histiórica campanha chegando a final da CHL (Foto: Issa Ndoye)

A final da Champions Hockey League tem data e local marcado: 18 de fevereiro na Swiss Life Arena em Zurique, a casa do ZSC Lions. ZSC e Färjestad foram os dois melhores times da primeira fase, dominaram nos confrontos eliminatórios e chegaram na final com autoridade e méritos. Agora o jogo é único e só um dos times pode vencer e levantar o troféu europeu.

Continental Cup – Final em Cardiff

Temos a Champions Hockey League, o torneio dos times das ligas mais badaladas, cheios de astros e alguns dos melhores jogadores do hóquei no continente europeu. Times como ZSC Lions, Färjestad BK e outras equipes poderosas disputam o título continental de primeira linha do hóquei no gelo europeu. Entretanto, a CHL não é o único torneio continental da Europa.

Existe um torneio chamado Continental Cup disputado por times campeões e vice-campeões, de países como Turquia, Espanha, Sérvia, ou campeões de copas nacionais de ligas como a EIHL e Ligue Magnus da França. A Continental Cup é o lado B dos torneios continentais do hóquei masculino europeu.

Não precisamos detalhar todas as três fases anteriores da Continental Cup nessa edição. Mas, vamos resumir a fórmula de disputa: começam com dois grupos com quatro times em cada grupo, cada time da chave enfrenta os outros três times e os dois melhores avançam. Na segunda e terceira fases, a fórmula se repete com os times melhor ranqueados entrando nessas fases mais avançadas. Assim, os quatro restantes disputam a fase final. A final segue a mesma fórmula também.

Essa edição teve HC Arlan, do Cazaquistão, GKS Katowice, da Polônia, Brûleurs de Loups, França, e Cardiff Devils entre os finalistas. A fase final foi marcada para Cardiff, trazendo problemas no cronograma do HC Arlan que precisou se retirar e não compareceu.

O que era um quadrangular, virou um triangular. Tudo começou com um jogo entre GKS e Devils. Os donos da casa venceram por seis a três já fazendo grande vantagem. O GKS enfrentou os Brûleurs de Loups no segundo jogo, uma partida dramática onde o time francês venceu por três a dois no shootout, o grande momento do hóquei. A partida entre Loups e Devils virou a grande final da competição, apenas um entre os dois seria campeão da Continental Cup.

Os Devils contaram com um ótimo segundo período, o jogo estava empatado em um a um quando o show de Brett Perlini e companhia começou. Perlini marcou duas vezes seguidas, seguido por dois gols dos colegas de time ainda no segundo terço de partida. Perlini completou seu hat-trick na terceira etapa com um gol na rede vazia. o Cardiff Devils fez seis a um no placar e garantiu o título da Continental Cup 2024-25 para comemorar com sua torcida.

Os Devils foram o segundo time britânico a vencer a Continental Cup. O primeiro foi o Nottingham Panthers em 2017. O time havia terminado a Continental Cup da temporada passada em terceiro lugar, deu a volta por cima e sai com o troféu continental. O Cardiff Devils pode jogar a Champions Hockey League na próxima temporada, se acabar convidado para ocupar uma das vagas das chamadas “ligas desafiadoras”. Isso se os próprios Devils não se classificarem pela EIHL, o que deve ser um assunto no futuro dessa coluna.

E pra fechar, pode tocar aquela lá que já é clichê, mas funciona perfeitamente nesses momentos.

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